Mais um conto feminista, fetichista e mágico das aventuras de Coraline, onde misturo realidade e ficção para ilustrar violências de gênero. Posso não sair vitoriosa em todas as situações no dia a dia, mas Coraline sempre vence e se vinga por mim:
Nessas diversas experiências que Coraline vem experimentando através do Instagram de sua persona "Mistress Cora", ela está tendo oportunidade de fazer trocas incríveis e conhecer pessoas para além dos limites geográficos. Isso trás uma certa nostalgia, de quando em sua adolescência, ela despendia horas, dias, das suas férias escolares, para bater papo com seus amigos virtuais. Inclusive já teve oportunidade de conhecer alguns quando viajou para eventos de cultura japonesa, outra área que ela ama muito e isso reverbera em sua arte até os dias atuais.
Bem, estou me enrolando um pouco aqui, pois hoje novamente venho contar para vocês sobre outra situação de violência de gênero. Não é nada fácil falar sobre isso, mas não desista, pois ela mais uma vez saiu vitoriosa.
Um de seus novos amigos virtuais, era um artista incrível. Se conheceram através de um proposta de collab para um projeto pessoal do artista, do qual ela se interessou muito pela temática e possibilidade de se explorar mais enquanto artista.
Coraline ama conversar sobre processos artísticos e se perde em conversas com outros artistas, pois essa colaboração nas vivências é extremamente enriquecedora. Muitos com quem já conversou, inspiraram muito de suas artes.
Quando se sente confortável, ela compartilha muito mais que processos artísticos e isso vai desde coisas do dia-a-dia quanto sobre sua sexualidade. Poder falar abertamente sobre esta temática sem ser objetificada, falar sobre o que gosta, não gosta, compartilhar experiências, para enriquecer seu conhecimento sobre o assunto, é libertador.
Coraline não acha fácil chegar a esse ponto da conversa, apesar de às vezes parecer que lhe é fácil para quem lhe ouve, principalmente se esse papo for com homens, sendo que ela é uma artista que trabalha com arte erótica. Volta e meia recebe aleatoriamente fotos de nudez não solicitadas; homens que se dizem "descontruídos" e que por você falar sobre sexo com naturalidade, já se acham na liberdade de ficar pedindo coisas fora de contexto, te tratando como uma maquina de extração de porra; tem aqueles que não respeitam os limites da arte e do artista, não compram a sua arte, mas querem o seu corpo.
Então por que não parar de falar sobre isso? Por que Coraline não volta pra sua fortaleza do silêncio? Porque ela quer ser livre. Quando ela não fala, ela sente que vai se matando aos poucos, pois isso é quem ela é, uma mulher de sexualidade para além das construções e esteriótipos heteronormativos.
Voltando ao artista... Eles pensaram em criar mais artes juntos, casar a fotografia e a ilustração, porém o artista queria ilustrar fotos que ela criasse pra ele. Ele queria algo personalizado. Ele queria ela trabalhando pra ele e não com ele. O que era pra ser uma relação de colaboração, estava para se tornar uma relação hierárquica onde o homem controla a mulher para seu prazer.
Quando esse pedido surgiu, ela sentiu um desconforto muito grande no corpo, mas que no momento ela não conseguiu identificar, só se manteve em alerta e não deu nenhuma resposta sobre para ele, para ter um tempo para refletir sobre o que estava sentindo.
Alguns dias depois, ela postou no seu Instagram, algumas peças que ela gostaria de ganhar para complementar seu acervo de figurinos e a criação dos seus trabalhos. Em troca, ela presentearia a pessoa que lhe deu a peça, com o ensaio fotográfico que fizesse usando-a.
- Eu quero lher dar esta peça. - Disse o artista.
- Ebaaa!!! - Respondeu Coraline.
- Mas eu quero saber o que eu vou ganhar em troca. - Disse ele.
- Você vai ganhar o ensaio fotográfico. - Respondeu ela, já sentindo um tom na conversa que lhe causou desconforto no corpo.
- Mas isso não é o suficiente, eu quero mais e estou disposto a investir em você. - Completou ele em resposta a ela.
Nesse momento, o desconforto no corpo se alastrou e aquela sensação desagradável, que infelizmente não era novidade, lhe mostrou que ela estava passando novamente por uma situação de violência e abuso de poder. Respirou fundo e disse:
- O que eu tenho a oferecer é um ensaio fotográfico. Aqui é meu domínio, eu produzo o que eu quero e o que me deixa confortável. O intuito desse perfil foi sempre para atender aos meus desejos. - Respondeu ela
- Peraí que vou falar com a Coraline no zap, hahaha! - Respondeu ele insinuando que ela estava respondendo dessa forma, pois estava interpretanto a Cora, como se a Coraline fosse mais "boazinha".
- Eu estou falando sério. A Mistress Cora e a Coraline são parte de mim. Se você não quer o que eu escolho te dar, então não temos negócio fechado e por aqui encerramos. Não ouse abusar da intimidade que eu lhe dei para achar que você tem posse sobre meu corpo, meus desejos, minhas escolhas. Eu estou gastando meu tempo com você, pois achei que havia algo construtivo e produtivo na relação, mas parece que me equivoquei e você não sabe qual é seu lugar. Ela respirou fundo novamente, fechou os olhos, acendeu uma vela e canalizou toda sua dor e sua raiva. Quando abriu os olhos, atravessando espaço e tempo, Coraline estava diante do seu "amigo", incorporando as vestes e a Mistress Cora: - Sabe... - Caminhou suave e firme ao redor dele, segurando uma vela.
- Você é podre! Você é da lama! Um macho escroto que quer sugar minha fama. - Falou Mistress Cora, apoiando um dos seus braços nos braços da cadeira em que o artista estava sentado. Sua fala saiu com tanta raiva e intensidade, que sua boca projetou gotas de saliva ácida que corroeram levemente a pele do rosto do artista. - Sabe essa sua grana aqui?? Foda-se ela, dinheiro podre, dinheiro sujo, que não serve nem pra pagar meu tempo aqui com você. - Disse ela amassando o dinheiro, enquanto empurrou o tronco do artista com sua bota envernizada de salto alto fino, fazendo-o cair com a cadeira de costas no chão.
- Pegue esse seu dinheiro imundo. - Disse isso com um dos pés e o salto sobre o estômago do artista, enquanto jogava as notas amassadas sobre seu externo.
- Eu lhe dei um lugar ao meu lado, mas você não achou suficiente e queria ser mais. Então, vou te ensinar sobre como é estar abaixo de quem tem o poder. - Disse ela olhando para o dinheiro através da chama, fazendo com que eles começassem a queimar.
- Que as cinzas sujem mais ainda esse seu corpo imundo, que a cera derretida e a chama queimem sua pele, para que você sinta a dor que muitas de nós passamos ao sermos queimadas nas fogueiras. - Disse ela derramando a cera sobre o corpo do artista e pressionando ainda mais o salto no estômago dele. - Que a sua carne ferva, que as bolhas explodam e que a dor seja tão insuportável, que você vai desejar nunca ter me conhecido e não ousará proferir tais blasfêmias contra corpos sagrados de outras mulheres. Toda vez que pensar em tais condutas, seu corpo sentirá esse queimor, esse ardor novamente, com a mesma intensidade de agora. Essa é a minha maldição.
A dor foi tamanha que o artista desmaiou.
Alguns minutos depois, ele acordou assustado, com a respiração ofegante e imediatamente tocou seu tórax, percebendo que sua pele está intacta. Com isso, uma sensação de alívio lhe veio e chegou a conclusão que devia ter cochilado sem perceber.
Foi procurar Coraline suas redes sociais, mas instantaneamente foi tomado pela mesma dor que sentiu, no que achava ter sido apenas um pesadelo e uma sensação de medo que nunca havia sentido antes.
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Se a tortura foi real ou não, não sabemos, mas o fato é que ele havia cometido uma violência de gênero, não reconheceu e merecia uma maldição.
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