Coraline estava trabalhando muito em sua empresa baunilha, deixando sua arte um pouco de lado.
Com isso, as dores, ansiedade, estresse, vieram a tona e a exaustão tomou conta do seu corpo pedindo para ela parar.
Sua arte é por onde expressa suas emoções, sua arte é sua voz. A não produção de arte é um silêncio que corrói suas entranhas.
Ela, pela primeira vez na vida, tem objetivos grandes para sua vida e está fazendo planejamentos conscientes para seu futuro. Está construindo seu império e trabalhando para mimá-la.
Das suas conquistas materiais: comprou uma bota de verniz de salto plataforma preta, que vai até a coxa; duas perucas front lace, que eram seu sonho; vestidos curtos, que valorizam suas curvas, para flertar consigo mesma no espelho e se exibir; dois conjuntos de lingerie bem sexy; uma saia longa xadrez, que na primeira vez que usou, achou coisa de "crente", agora não tira do corpo, principalmente quando dança; coturno de verniz preto, que ela já usou em produções incríveis, ela ama o brilho; máquina de cortar cabelo, pois ela raspou uma parte do seu cabelo pra poder colar a fita da front lace; cortinas e estantes para sua casa, que está se transformando cada vez mais em lar... Pode parecer fútil e pequeno para algumas pessoas, mas depois de quase 10 anos sem investir com foco nela e sem culpa, essas conquistas tem a feito muito feliz.
No despertar da Mistress Cora, que eu contei em outro conto, Coraline precisou se desapegar da sua vida heteronormativa para conseguir sua liberdade, umas das coisas foi romper uma relação baunilha de quase 10 anos. Agora ela está aprendendo a viver sozinha, a organizar sua rotina sem depender de ninguém.
É violenta e triste essa realidade das mulheres, que se relacionam com homens, de precisar escolher entre carregar a responsabilidade dos homens para ter um afeto no seu dia-a-dia ou não aceitar essa carga e viver sozinha. Essa é a realidade de muitas mulheres, pois a maioria dos homens está muito confortável em seus papéis explorando, oprimindo e sendo servido pela mulheres. Quando ainda não as forçam em posições de mães e professoras.
Isso tem pairado a cabeça de Coraline por semanas e diminuído sua vontade de experimentar sua sexualidade com outras pessoas. Sua imaginação erótica continua rolando solta, mas a ideia de abrir-se para uma outra pessoa, expor suas vulnerabilidade e intimidade, com a possibilidade de sofrer novamente violências de gênero, a faz preferir continuar nesse processo de descoberta da sua sexualidade sozinha.
Em seu último conto "Hoje eu estou faminta", ela soltou toda sua personalidade sádica e vingativa. Coraline não quer erradicar os homens do planeta, nem castrá-los (talvez alguns), para além dos seus contos. Ela o faz para extravasar sua raiva em relação ao sistema patriarcal. Ela deseja um mundo onde todes sejam livres e se respeitem. Esse sonho dá sentido para sua vida.
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